sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Minha identidade



Normalmente venho usando este blog para falar de teatro e poesia, ou coisas do gênero. Porém lendo os textos de Hailey Kaas e outros depoimentos na página transfeminismo.com http://transfeminismo.com/2012/12/ resolvi falar sobre a relação de gênero, que é uma questão que sempre me afetou profundamente. Nestas leituras a que me referi eu tenho conseguido identificar o quanto também estou vivendo em uma espécie de  limbo nestes últimos anos, ainda que de não tão dificil resolução. Acho que sou uma pessoa cisgênro, ou seja, tenho a genitália regulada com o gênero feminino (se é que dá pra pensar desta forma) que me foi atribuído naquele distante  10 dezembro de 1962 – tempo em que para saber durante a gestação se o neném  era menina ou menino, só mesmo pelo formato da barriga, pela lua,  alguma simpatia... –  e me sinto relativamente confortável quanto este aspecto. Porém o disforia me assalta quanto se trata do transitar em espaços nos quais eu preciso comprovar a minha identidade atual e isto tem me causado alguns transtornos. Para início de conversa, por conta de ter me deparado com situações autoritárias e machistas desde a tenra idade, sempre rejeitei a ideia de um dia me casar. Mas, em meio aos debates e lutas estudantis, fundação do partido dos trabalhadores, teatro, etc..., o casamento aconteceu e o meu problema de identidade veio junto no pacote. Na hora do registro no cartório, a cartorária (me recordo até hoje seu nome – Heloisa) afirmou que eu teria que acrescentar ao meu nome o sobrenome do meu companheiro. Fiquei chateada, eu tinha quase certeza de que não já não precisava mais, perguntei se ela estava certa disso, ela respondeu afirmativamente. Então deixei por isso mesmo, afinal, talvez isto nem fosse tão importante assim, era só eu não usar aquele “apêndice” no final de meu nome. E é o que tenho feito desde então, mas ai a gente se depara com os problemas legais e os desconfortos.  Nestes 22 anos de sociedade conjugal, me acompanha uma vontade louca em não abdicar do meu nome. Sempre converso sobre este  desconforto com meu companheiro, até fomos juntos buscar solução para isto e, segundo advogados, neste caso só o divórcio. Iniciamos o processo, mas interrompemos devido a questões de partilha, guarda das filhas, etc..., achamos que iria gerar muitos problemas. Então...,  continuo assim. Atualmente estou fazendo alguns documentos para ir ao Pedagogia 2013 em Cuba e novamente se apresenta esta questão. O Banco pra fazer o upgrade do meu cartão de crédito pergunta: quem sou eu? A Polícia federal pra fazer o passaporte pergunta: quem sou eu? E eu respondo que eu quero ser Neusa Maria Tavares Portilio e eles me respondem que isto está errado, que eu tenho que mudar meus documentos para o nome de casada. Putz! Que merda esta porra de sociedade calcada na figura masculina!... Que merda esta cultura machista!... As coisas até mudam legalmente, mas demoram demais pra mudar de fato e a gente vai se deixando levar. E este é apenas um pequeno ponto, fora o imenso iceberg submerso de desconfortos que a gente encontra no dia a dia, gerados pelo simples fato de sermos mulheres, ainda que branca e cisgênero.

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