segunda-feira, 27 de junho de 2011

A Cia Mamborê de Teatro está em busca de espaço

Qualquer forma de arte necessita de um suporte sobre o qual se materialize a expressão. Alguns artistas materializam suas expressões através dos instrumentos musicais; outros, materializam nas telas; tem aqueles que materializam sua arte nas palavras sobre o papel. No caso do teatro a materialização da expressão se dá através do próprio corpo e da palavra dita. Portanto o espaço é para o ator o que o papel e a caneta são para os poetas, o que o instrumento é para o músico. Para um grupo de teatro ter uma casa, um abrigo, significa poder experimentar, pesquisar, formar, ter independência artística, ter um suporte sobre o qual a expressão se materialize.
A Cia Mamborê de Teatro está em busca de abrigo para as suas pesquisas, investigações de cenas, oficinas, ensaios, mostra de trabalhos, enfim, tudo aquilo que envolve a formação do ator e o trabalho de grupo. E ser grupo de teatro em uma pequena cidade do interior do Paraná requer apoio do setor público local para garantir a sua permanência e para dar continuidade ao trabalho. Diante disso a Cia está buscando junto à Prefeitura do Município de Mamborê, e com apoio da Diretora de Cultura, a destinação de uma casa (barracão) situada às margens do lago no Parque do Lago deste município, cujo projeto de construção do parque pretendia a demolição do prédio.
A partir dai a Cia elaborou um projeto e protocolou junto à prefeitura reivindicando a recuperação e reforma deste espaço para abrigar manifestações culturais e artísticas do município e também servir de sede para o grupo.
Desde o inicio de suas atividades em 2004 a Cia Mamborê de Teatro vem caminhando lentamente, espiando o que se faz, como se faz e buscando a melhor forma de fazer esta arte em uma cidade pequena e de vocação agrícola como é Mamborê. E, também, levar esta possibilidade de encenação, realizada nesta cidade do interior do estado do Paraná, para outros espaços em que o teatro acontece.

domingo, 26 de junho de 2011

Palco


Nesta manhã de domingo a alma da Cia Mamborê de Teatro está cheirando a talco como bumbum de bebê.

Subimos ontem ao palco do Centro Cultural de Mamborê e trocamos uma energia muito legal com a plateia. Que maravilha! Que plateia! Que energia!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

MÃE

http://blogdocarlosaleixo.blogspot.com/2011/06/dona-almerinda.html#comments

Meu amigo querido, companheiro Carlinhos, falou coisas lindas sobre a minha mãe em seu Blog. Isto me fez muito feliz.
No entanto, lembrei de um momento em que eu estava triste, quando chamei por ela através deste texto:


TOMBO
Eu caí, estou estendida de bruços no chão áspero,
Meus joelhos e cotovelos ardem, sangram
E eu choro incessantemente, ...

Que falta que me faz uma Mãe!
Como a vida é má! madrasta!
Torna-nos mães, tira-nos as Mães.

Eu queria ser eternamente filha,
Brincar toda a minha existência com a Maísa, a Aline e a cachorrinha de estimação,
E ao tropeçar e cair,
Chamar a Mãe para assoprar as minhas feridas, pedir, ainda entre lágrimas, uma “coisinha” para curar a minha desnutrição de “coisinhas”.

,... E quando eu conseguir me levantar deste chão áspero,
Terei que tomar banho,
E a água escorrerá sobre as feridas abertas e o choro voltará novamente.



Acho que ela ouviu, veio me levantar do chão e assoprar as minhas feridas.

domingo, 19 de junho de 2011

Para Maisa

Maisa é alguém que lê como ninguém o meu verso pelo avesso, ai ela me surpreende contando para mim as novidades de mim mesma. Foi assim que eu assisti O beijo Roubado, ouvi Bethânia em seu Mar de Sophia , vi o quadro do Chaplin...

sábado, 18 de junho de 2011

PEALO DE SANGUE

Peguei meu velho e surrado Giannini, resolvi cantarolar (profanar com minha péssima performance) uma das músicas mais lindas que conheço que é “Pealo de Sangue” de Raul Ellwanger. Então comecei a me perguntar: Onde andará este artista maravilhoso? Perguntei para o Google e ele me respondeu que Raul Ellwanger esta na Praia do Rosa em Santa Catarina e depois de um período de distanciamento da produção musical, voltou a ativa.
Sempre gostei muito do trabalho deste artista. Certa vez tive a felicidade de encontrá-lo fazendo um show no festival Seara da Canção de Carazinho. Fiz questão de consegfuir um autógrafo no disco Portuñol que estava comigo naquela ocasião. Me encantei com a sua simplicidade e afabilidade e voltei muito feliz para o Paraná, com o disco autografado em baixo do braço, morrendo de medo de esquecê-lo no ônibus.
Raul Ellwanger é um artista de muitas parcerias, já trilhou muitos caminhos, provavelmente pela sua própria natureza inquieta e, também, por força do AI-5 durante a ditadura. E esta riqueza de elementos e de contribuições de tantas gentes nos caminhos onde trilhou, aliado com a sua sensibilidade e talento, fez com que ele traduzisse para nós tudo isso em música e poesia.


Visitem o site deste artista: http://www.raulellwanger.com.br/

quarta-feira, 15 de junho de 2011

ESTOY “RAMILONGANDO”

Acabei de adquirir o disco DÉLIBÁB de Vitor Ramil e estou degustando esta delicia. Vitor Ramil promoveu um encontro de dois poetas do clima frio do sul do continente. Um deles, o poeta Argentino Jorge Luis Borges; o outro, o poeta brasileiro, nascido e criado em Alegrete-RS, João da Cunha Vargas. Vitor “RAMILONGOU” as poesias do argentino, publicadas em “Para las Seis Cuerdas” e, possivelmente, toda a obra escrita do brasileiro, já que este não costumava escrever suas poesias, era um poeta da tradição oral, um “payador”.
Com certeza, os acordes da guitarra sugerida por Borges no prólogo do livro de “milongas”, estavam aguardando por Vitor Ramil, e foram completadas e trazidas até nós em DELIBAB. Esta sonoridade só poderia ser captada por alguém com a sensibilidade deste poeta, escritor e músico de Pelotas, que de forma excepcional , consegue traduzir, em uma linguagem universal , a forma como aqueles que brotam neste espaço mais ao sul do continente, percebem as coisas, os acontecimentos, música e a poesia que ali se dá.


DÉLIBAB
Vitor Ramil, no DVD que acompanha o CD , explica que DÉLIBÁB é um fenômeno extraordinário da planície húngara, tão semelhante às planícies do sul do nosso continente. Único em seu gênero, este tipo de espelhismo transporta paisagens muito distantes a horizontes quase desérticos, reproduzindo ante os olhos maravilhados do observador, em dias de calor, o desenvolvimento de cenas distantes. Quadros curiosíssimos que cobrem o horizonte em enormes projeções. E suas imagens são planas, nunca invertidas, nítidas, claríssimas. Este fenômeno ótico é devido à refração desigual dos raios solares nas camadas de ar, de temperatura e rarefação diferentes. A imagem passa por diversas regiões de atmosfera de diferente densidade, até projetar-se sobre o horizonte da planície.

RAMILONGAR
Esta ação é possível? Eu acredito que sim, pois estou ramilongando e sentindo na pele o arrepio,nos ouvidos a melodia que serpenteia nas ondulações do pampa, na boca o sabor suave do mate amargo, nas narinas o cheiro da erva verde e o perfume das macegas das coxilias trazidas pelo vento caminhador e no olhar a delibab (eu sinto que este substantivo é feminino).

domingo, 12 de junho de 2011

Teatro Itinerante

A Cia Mamborê de Teatro, desde suas primeiras montagens tem levado o teatro às comunidades rurais do município de Mamborê. Agora é a vez do Caixeiro da Taverna, que na última sexta-feira, 10 de junho esteve na Comunidade do Guarani e no sábado, dia 18 de junho, estará na Comunidade do Pensamento .
Esta iniciativa já foi registrada em reportagem da RPC TV no programa Caminhos do Campo.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Onde andam os Beneditos?













Há bastante tempo não tinha contato com a tradição gaúcha e os Rodeios Crioulos. Porém, no último fim de semana, dias 4 e 5 de junho, estive em Toledo-Pr, onde ocorreu um evento desta natureza. Asseguro que foi uma interessante retomada do contato com as minhas raízes gaúchas.
Confesso que não sou adepta da modalidade do Tiro de Laço, acho completamente desnecessário e cruel este tipo de culto. Mas, já a invernada artística, onde se cultivam poesias, músicas e danças é algo muito agradável. E assistir a declamação da poesia “Os olhos do Negrinho” de Dimas Costa, na maravilhosa interpretação de José Ernesto Tavares foi um momento muito especial.












OS OLHOS DO NEGRINHO
Dimas Costa

Em tempos que já vão longe -por culpa do Grã-senhor-
O mundo era um carneador,-assim na comparação
Coberto do sangue rubro, vertido do corpo vivo
Do negro, pobre cativo, nas garras da escravidão!

Vinham barcos de além-mar, galopeando pelas águas,
Trazendo dores e mágoas num bojo infecto e imundo!
E despejavam nos campos dos potreiros do Brasil
Que se fez, também covil do maior crime do mundo!

Nosso Pampa, por desgraça,foi cúmplice desse crime!
Hoje, no entanto, redime a culpa dessa maldade!
Pois se abriram para as raças, todas as porteiras do pago
E diz que cultiva, com afago, a mais pura liberdade!

Mas foi nesse triste tempo, que nasceu o Benedito.
Um pobre escravo, negrito, que morreu ainda na infância.
Nasceu não... surgiu no mundo, como um traste sem valor,
E por ordem do “Senhor”, foi crescendo e ficou sendo o mandalete da estância.

O pobre Benedito, era pau prá toda obra!
Mais ruim que carne de cobra, para ele era o Senhor,
-Benedito, busca água,
-Bendito, espanta o gado,
-Benedito, desgraçado, negro ordinário, estupor
E logo o relho cantava, e o Benedito gemia,
Apanhava e não sabia, porque razão o coitado.
Ficava ali tremendo, fitando o senhor, sestroso,
Meio gemendo, choroso, os olhos grandes parados.

-Benedito!, fecha os olhos!, não me olhes deste jeito.
-Toma negro, tem respeito. Não olha assim para mim.
E o relho vinha de novo, lanhar o corpo flaquito,
-Fecha os olhos Benedito, não me olhes, negro, assim.

E o negrinho se afastava, com olhar escancarado,
Pois nem o medo danado, daquele homem feroz,
Fazia o negro desviar, aquele mirar profundo,
Que penetrava no fundo, da alma do seu algoz.

-Benedito!, fecha os olhos!, não me olhes deste jeito.
O rancor e o despeito, deixava o senhor aflito,
Pois no fundo deste olhar, havia um triste segredo,
E o senhor já tinha medo, dos olhos do Benedito.

A noite quando o negrinho, depois que a lida findava,
Corpo moído, se deitava, no chão duro da senzala,
A lua vinha de manso, furar a palha do teto,
E o negro com muito afeto, ficava rindo a fitá-la.

E abria mais os olhos, para beber o luar,
Que nunca ouviu reclamar por ele mirar assim.
E feliz, naquele instante, o negrinho, tão pequeno,
Fechava os olhos , sereno, e adormecia, por fim.

-Benedito, fecha os olhos! Desvia, negro esse olhar!
Pois hoje tu vais fechar, para sempre, desgraçado!
E o monstro humano bateu no negrinho sem cessar,
Até o pobre tombar, aos seus pés, ensanguentado!

-Fecha os olhos, Benedito! E o corpo, já encangue
Arrancava carne e sangue, sempre a bater, o maldito!
Mas o olhar do negrinho mais e mais se escancarava
E louco, o “senhor” gritava
-Fecha os olhos, Benedito!

Até que um negro silêncio susteve o braço assassino.
Pois a alma do menino, escravo da negra sorte,
Fugiu por fim já cansada de tanto o corpo apanhar,
E feliz, foi se entregar aos braços livres da morte!

E o olhar do Benedito nem assim não se fechou
Morto, embora, ali ficou mais e mais escancarado!
E o “senhor” ao ver aquilo, perdeu a luz da consciência
E arrojou na demência, a gritar desesperado:

-Benedito, fecha os olhos! Negro ordinário, maldito!
-Benedito, fecha os olhos!
-Fecha os olhos, Benedito!

E o olhar do Benedito ficou grudado no céu.
Uma noite, por entre o véu da grandeza do infinito,
um par de estrelas surgiu a brilhar fitando o mundo.
Tinha um mirar tão profundo como os olhos do negrito.
E hoje que ainda existe na consciência universal
a eterna nódoa do mal daquele crime maldito,
quanto homem ainda há, que ao ver o par de estrelas brilhar,
não tem ganas de gritar:
– Fecha os olhos, Benedito!

Como a própria poesia revela, as porteiras do pago foram abertas às diversas etnias, para se "redimir" da maldade, mas..., que curioso!?!.., todos de olhos claros!?!?...
Onde estarão os negros olhos?