quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Estamos adiando o fim do mundo mais uma vez.

Ao vasculhar as pegadas das viventes no mundo que habitamos, percebo que este sempre esteve para acabar e a cada período vamos nos revezando para abrir espaço e empurrar mais pra frente este prenúncio de fatalidade. E, cá entre nós, esta tarefa tem sido muito com a marca de mulher, não só porque somos as que gestam e parem os novos viventes... mas  porque somos nós que nascemos com a dor construída dentro de nós, inside, que vai além de parir,  e por isso não queremos outras dores, aquelas culturais, como falta de comida, como inexistência de abrigo, como guerra, entre outras tantas que matam as mulheres e os filhos das mulheres em primeiro lugar... (Será isso??)

 Ao que me parece, atravessada por esta percepção de uma “porção mulher que trago em mim agora”, a construção destas dores culturais enumeradas precariamente logo aqui atrás, ... são dores de homem, são dores construídas fora, outside, pelo patriarcado, que é masculino. Parece que homem não nasce com dores intrínsecas, “in”, e, em função disso, devem sentir necessidade de fabricá-las...( Pois então?!?!)

Ouvi em uma fala de Gilberto Gil, de quem roubo algumas palavras gotejadas aqui neste texto, que “o mundo precisa ser mais gay”, e..., penso eu, que uma nova civilidade, mais do que nunca neste momento, passa por estas nuances do pensamento sensível, e que este pode desconstruir o pensamento simbólico, pensamento que vive "a ilusão de que ser homem" basta, pois parece que este pensamento não dá conta de expressar os outros modos de habitação.  - Confesso que vivi um bom tempo neste lugar de ilusão, já até narrei em algum lugar por aqui e acolá, que passei embaixo do arco-íris várias vezes...(Pode isso?!...rsrsrs)

Pois eu sinto agora aquele “bruma leve das paixões que vem...” deste espaço que acabamos
de abrir, naquele ponto onde o céu encontra a terra e fazem juntos aquela curva arredondada, cheia de reconvexos,... lá onde os meus olhos alcançam e.. não alcançam mais. O espectro sombrio que esteve rondando foi empurrado para mais além e precisamos de muita arte para adiar... e adiar...e adiar... o fim do mundo. Precisamos segurar com muita força, disposição e alegria para que a bruma leve se torne aquele vento, aquela chuva que cai mansa e lava toda as dores ruins que não queremos que voltem jamais.



domingo, 16 de outubro de 2022

Meu gurizinho


 Esta fotografia, tirada em plena ditadura militar. Eu estava na 3ª ano primário e você no 1º ano daquele 1973. Eu tinha uns nove anos e tudo aquilo de esquisito e transtornante que marcou minha vida estava acontecendo. 

Você era lindo, inocente e de uma simpatia estonteante, e nada tinha a ver com as maldades do mundo. Todos e todas nós te amávamos muito. 

Com certeza você era o mais lindo de nós três.

 Espero que você tenha saído ileso daquele mundo bruto...

Nossas vidas continuam, cada um de nós três seguindo um sonho que nos alenta e nos mantém vivos... 

Estamos bem.