segunda-feira, 30 de maio de 2011

Mestre Nikon Kopko

- Hersen, Portílio e Darolt!?!?!
Ouvindo esta frase proferida com aquela voz grave e forte do mestre Nikon Kopko, o trio que conversava animadamente ao fundo, se acomodava rapidamente nas suas respectivas carteiras. Logo após a chamada (meu número sempre se situava por volta do 23 e sempre haviam duas “Neusas” na sala) o mestre iniciava a correção da tarefa de casa que era conjugar os verbos da primeira, segunda e terceira conjugação em vários tempos e modos. E assim seguiam-se os dias até estarmos com a relação completa das conjugações verbais em nosso caderno de Língua Portuguesa.
Ufa!!! Haja caderno!!!
Nas aulas seguintes aprendíamos a forma correta da colocação pronominal – próclise, mesóclise e ênclise - e fazíamos uma lista imensa de exercícios praticando esta colocação adequada nas frases. Na sequência, como tarefa de casa, um tema sobre o qual deveríamos redigir aproximadamente uma lauda para a aula do dia seguinte...
Assim eram as aulas do mestre muito conhecido e respeitado por todos pelo domínio que tinha da gramática normativa. Na verdade nosso mestre era a gramática em pessoa.., qualquer dúvida que alguém tivesse em relação à norma da Língua Portuguesa, lá vinha acudir aquele homenzarrão “buenacho” com seu vozeirão grave de megafone, ditando as normas e tecendo comentários sobre a etimologia das palavras envolvidas na questão.
Alguns anos mais tarde, já com a surdez acentuada e, em conseqüência, maior volume acrescido à voz grave e forte, este mestre me apresentou as declinações e um pouco do vocabulário da Língua Latina no curso de Letras da Fecilcam de Campo Mourão. Em algumas ocasiões, com uns dois velhos livros em baixo do braço esquerdo, vestindo a mesma camisa branca, calças cinza e sapatos pretos, denunciando o já largo uso, o mestre se sentava no banco rústico de madeira, que ficava na calçada em frente à grande porta de vidro da faculdade, e ali nos auxiliava nas dúvidas (agora Aleixo, Portílio e outros sobrenomes) relativas à norma culta padrão, com as quais nos deparávamos nas atividades agora acadêmicas
Neste época nossos novos mestres já começavam a esboçar uma abordagem diferente do ensino de Língua, tanto Inglesa quanto Portuguesa, onde nos era ofertada a gramática através de textos e não mais em frases soltas, estanques. A partir daí aprendemos que a língua tem diferentes modalidades, ouvimos falar do preconceito lingüístico e fomos apresentados a Saussure e Bakhtin entre outros, e as discussões continuam até hoje.
Hoje, além de não colocarem mais nome de Neusa nas meninas, também não se ensina mais a Língua Portuguesa da forma como o mestre Nikon Kopko ensinava. As suas aulas eram de “cálculo gramatical”, o que na prática cotidiana muito pouco utilizamos. Hoje tenta não se privilegiar a norma culta padrão, embora seja muito difícil, pois esta prática está muito enraizada na cultura escolar. Mas apesar de tudo isto, quando ouço falar em aula de Língua Portuguesa me vem à memória a imagem deste mestre que cuidava com carinho da gramática da língua nas frases escritas e proferidas por seus alunos.

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