Normalmente venho usando este blog para falar de teatro e poesia, ou coisas do gênero. Porém lendo os textos de Hailey Kaas e
outros depoimentos na página transfeminismo.com http://transfeminismo.com/2012/12/ resolvi falar sobre a relação de gênero, que é uma questão que sempre me afetou profundamente. Nestas leituras a que me referi eu tenho conseguido identificar o quanto
também estou vivendo em uma espécie de limbo nestes últimos anos, ainda que de não
tão dificil resolução. Acho que sou uma pessoa cisgênro, ou seja, tenho a
genitália regulada com o gênero feminino (se é que dá pra pensar desta forma) que
me foi atribuído naquele distante 10 dezembro
de 1962 – tempo em que para saber durante a gestação se o neném era menina ou menino, só mesmo pelo formato da
barriga, pela lua, alguma simpatia... – e me sinto relativamente confortável quanto
este aspecto. Porém o disforia me assalta quanto se trata do transitar em
espaços nos quais eu preciso comprovar a minha identidade atual e isto tem me
causado alguns transtornos. Para início de conversa, por conta de ter me
deparado com situações autoritárias e machistas desde a tenra idade, sempre
rejeitei a ideia de um dia me casar. Mas, em meio aos debates e lutas estudantis,
fundação do partido dos trabalhadores, teatro, etc..., o casamento aconteceu e
o meu problema de identidade veio junto no pacote. Na hora do registro no
cartório, a cartorária (me recordo até hoje seu nome – Heloisa) afirmou que eu
teria que acrescentar ao meu nome o sobrenome do meu companheiro. Fiquei
chateada, eu tinha quase certeza de que não já não precisava mais, perguntei se
ela estava certa disso, ela respondeu afirmativamente. Então deixei por isso
mesmo, afinal, talvez isto nem fosse tão importante assim, era só eu não usar
aquele “apêndice” no final de meu nome. E é o que tenho feito desde então, mas
ai a gente se depara com os problemas legais e os desconfortos. Nestes 22 anos de sociedade conjugal, me
acompanha uma vontade louca em não abdicar do meu nome. Sempre converso sobre
este desconforto com meu companheiro,
até fomos juntos buscar solução para isto e, segundo advogados, neste caso só o
divórcio. Iniciamos o processo, mas interrompemos devido a questões de partilha,
guarda das filhas, etc..., achamos que iria gerar muitos problemas. Então..., continuo assim. Atualmente estou fazendo alguns
documentos para ir ao Pedagogia 2013 em Cuba e novamente se apresenta esta
questão. O Banco pra fazer o upgrade do meu cartão de crédito pergunta: quem
sou eu? A Polícia federal pra fazer o passaporte pergunta: quem sou eu? E eu
respondo que eu quero ser Neusa Maria Tavares Portilio e eles me respondem que
isto está errado, que eu tenho que mudar meus documentos para o nome de casada.
Putz! Que merda esta porra de sociedade calcada na figura masculina!... Que merda
esta cultura machista!... As coisas até mudam legalmente, mas demoram demais pra
mudar de fato e a gente vai se deixando levar. E este é apenas um pequeno
ponto, fora o imenso iceberg submerso de desconfortos que a gente encontra no
dia a dia, gerados pelo simples fato de sermos mulheres, ainda que branca e cisgênero.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
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